quinta-feira, 6 de agosto de 2015

105° aniversário de Adoniran Barbosa


Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato (Valinhos, 6 de agosto de 1910 — São Paulo, 23 de novembro de1982), foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro.
Adoniran Barbosa em 1935
Rubinato representava em programas de rádio diversas personagens, entre os quais, Adoniran Barbosa, que acabou por se confundir com seu criador dada a sua grande popularidade. Adoniran ficou conhecido nacionalmente como o pai do sambapaulista.
O compositor e cantor tem um longo aprendizado, num arco que vai do marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Quer ser artista – escolhe a carreira deator. Procura de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tenta, antes do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso nos teatros como ator lhe é para sempre abortado. O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o rádio.
O magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Têm elas um poder e extensão pouco comuns para um país que na época era rural. Inventam a cidade, popularizam o emprego industrial e acendem os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social busca outros caminhos e pode-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produzem. Três caminhos podem ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.
Adoniran percebe as possibilidades que se abrem a seu talento. Quer ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o leva a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição mas, nesse momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Daí sua escolha recair não sobre a composição, mas sobre a interpretação.
Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admira – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar. É gongado, mas insiste e volta novamente ao mesmo programa; agora cantando o belo samba de Noel Rosa, Filosofia, que lhe abre as portas das rádios e ao mesmo tempo serve como mote para suas composições futuras.
A vida profissional de Adoniran Barbosa se desenvolve a partir das interpretações de outros compositores. Embora a composição não o atraia muito, a primeira a ser gravada éDona Boa, na voz de Raul Torres. Depois grava em disco Agora pode chorar, que não faz sucesso algum. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos por Osvaldo Moles, fazem do sambista um homem de relativo sucesso. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir desses programas que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes.
O mergulho que o sambista fará na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, irão na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, davam o testemunho da importância que a linguagem assumia como veículo social.
Todavia, a escolha de Adoniran é outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele são o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determina o próprio discurso, os tipos humanos que surgem deste discurso representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revela como a tragicômica cena de um país que subtrai de seus cidadãos a dignidade.
O seu primeiro sucesso como compositor vira canção obrigatória das rodas de samba, das casas de espetáculo: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcança, então, o almejado sucesso que, entretanto, dura pouco e não lhe rende mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (esta cidade é conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto seja paulista, a música acontece primeiramente no Rio de Janeiro, com sucesso retumbante.
Arguto observador das atividades humanas, sabe também que o público não se contenta apenas com o drama das pessoas desvalidas e solitárias; é necessário que se dê a este público uma dose de humor, mesmo que amargo. Compõe para esse público um dos seus sambas mais notáveis, um dos primeiros em que trabalhou a nova estética do samba.
Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalha duro, casa-se duas vezes e frequenta, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira tem de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras é pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encanta multidões, que faz de várias pessoas ídolos é também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, é apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levam cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.
Adoniran sabe disto, mas mesmo assim seu desejo cala mais fundo. O primeiro casamento não dura um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde.
Numa de suas noitadas, de fogo, perde a chave de casa e não há outro jeito senão acordar Matilde, que se aborrece. O dia seguinte foi repleto de discussão. Entretanto, Adoniran é compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba Joga a Chave.
Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo... quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas... Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”
Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística. Compõe pouco.
Contudo, inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigantes, trens de ferro, carrosseis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, cria um mundo mágico. Quando recebe alguma visita em casa, que se admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental...” Como se vê, cultiva o humor como marca registrada. Marca aliás, que aliada à observação da linguagem e dos fatos trágicos do cotidiano, faz dele um sambista tradicional e inovador.
Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos de idade. Estava internado no Hospital São Luís tratando um enfisema pulmonar. Foi sepultado no Cemitério da Paz, conforme seu desejo. Deixou sua companheira de mais de quarenta anos, Matilde de Lutiis.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Bethânia em um show no Rio de Janeiro em 2012
Maria Bethânia Vianna Telles Veloso (Santo Amaro, 18 de junho de 1946) é uma cantora e compositora brasileira.

Nascida em Santo Amaro, Bahia, ela participou, na juventude, de peças teatrais ao lado de seu irmão, o também cantor e compositor Caetano Veloso e de outros cantores proeminentes da época. Em 1965, mudou-se para o Rio de Janeiro onde começou sua carreira musical substituindo a cantora Nara Leão no espetáculo Opinião. No mesmo ano, assinou contrato com a gravadora RCA e lançou seu homônimo álbum de estreia.

Bethânia foi eleita a 5ª maior voz da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil.

Nascida na Bahia em 18 de junho de 1946, Maria Bethânia é a sexta filha de José Teles Veloso (Seu Zezinho), funcionário público dos Correios, e de Claudionor Viana Teles Veloso (Dona Canô). Seu nome foi escolhido pelo irmão Caetano Veloso, inspirado em uma canção, a valsa Maria Betânia, do compositor Capiba, então um sucesso na voz de Nélson Gonçalves.
Bethânia é membro de uma família de artistas, sendo irmã da escritora Mabel Velloso, do cantor e compositor Caetano Veloso, e tia dos cantores Belô Velloso e Jota Velloso.
Na juventude, participou de espetáculos semi-amadores em parceria com Tom Zé, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil e, em 1960, mudou-se para Salvador com a intenção de terminar os estudos. Lá, começou a frequentar o meio artístico, ao lado do irmão Caetano e três anos depois, em 1963, estreou como cantora na peça Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Nesta época, Bethânia e Caetano conheceram outros músicos iniciantes como Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Alcivando Luz e outros, os quais acabariam sendo lançados como cantores e compositores pela cantora. No ano seguinte, montaram juntos os espetáculos Nós por Exemplo, Mora na Filosofia e Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova.

Em 2001, desliga-se das grandes gravadoras, transferindo-se para a independente Biscoito Fino, de propriedade de Olivia Hime e Kati Almeida Braga. O disco que marca a estreia na nova gravadora é o duplo Maricotinha ao Vivo - comemorativo dos trinta e cinco anos de carreira, que trouxe regravações dos antigos sucessos seus entre outras canções consagradas, textos e do álbum de estúdio homônimo do ano anterior, cuja maior parte das canções era inédita e foi o último álbum lançado pela gravadora BMG, e também gerou seu primeiro DVD. Em 2003, ainda na Biscoito Fino, lança o selo Quitanda (23 de setembro), para gravar discos com menor apelo comercial e lançar artistas que admira, como Mart'Nália e Dona Edith do Prato. Paralelamente, houve o lançamento do álbum Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu, gravado originalmente em 2000, que inicialmente não foi comercializado e distribuído numa tiragem limitada de duas mil cópias, apenas para angariar fundos para a restauração da matriz da cidade natal, em homenagem à Nossa Senhora; neste trabalho, a cantora reafirmou a religiosidade, presente em quase toda a obra. O disco contou com a participação especial da mãe, Canô Veloso, Gilberto Gil (violão e voz) e Nair de Cândia, nas respectivas faixas "Ladainha de Nossa Senhora", "Mãe de Deus das Candeias" e uma versão em latim da Ave Maria.
Bethânia também atua em direções, já tendo dirigido vários artistas entre eles o irmão Caetano Veloso e Alcione. Ao mesmo tempo, produziu a homenagem Namorando a Rosa, a violonista Rosinha de Valença, que tocou alguns anos em sua banda, falecida em 2004; dirigiu o espetáculo Comigo Me Desavim (1967); e nove anos depois gravou os álbuns Cheiro de Mato, Maria Bethânia e Caetano Veloso ao Vivo, Alteza, Olho d'água e Álibi, onde tocou violão em todas as faixas; o álbum contou com a participação especial de diversos nomes consagrados da MPB, como o irmão Caetano Veloso, Alcione, Chico Buarque, Bebel Gilberto, Ivone Lara, Délcio Carvalho, Yamandú Costa, Martinho da Vila, Turíbio Santos, Miúcha, Joanna, Hermeto Paschoal. Em 2005, foi lançado o filme documentário sobre sua vida e carreira, Música é Perfume.
Em 2006, foi vencedora do Prêmio TIM de Música (antigo Prêmio Sharp) onde arrebatou três títulos: melhor cantora, melhor disco (Que Falta Você Me Faz, um tributo a Vinícius de Morais) e melhor DVD (Tempo Tempo Tempo Tempo, comemorativo dos quarenta anos de carreira). No mesmo ano, os CDsantigos - LPs originais que haviam sido relançados anteriormente em CD - voltaram às prateleiras, com encarte completo (na edição anterior ele havia sido suprimido/reduzido), letras de todas as músicas e textos - mesmo que a versão original não as tivesse - e texto interno com a história do álbum redigido pelo jornalista e crítico musical Rodrigo Faour, pois há muito tempo estavam fora de catálogo.
Ainda em 2006, lançou dois álbuns simultaneamente: Pirata, onde canta os rios do interior do Brasil, lançado três anos antes, e Mar de Sophia, onde canta o mar a partir de versos da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner. A turnê de promoção dos dois discos foi batizada de Dentro do Mar tem Rio, com direção de Bia Lessa e roteiro do fiel colaborador Fauzi Arap, originando o álbum duplo homônimo, lançado em 2007.
Lançou em 2007 pela Biscoito Fino o DVD duplo que contempla dois documentários sobre a artista: Pedrinha de Aruanda e Bethânia Bem de Perto. Este primeiro é um registro da intimidade da cantora, tendo como ponto de partida a comemoração do seu aniversário de sessenta anos, celebrados durante uma apresentação em Salvador e uma missa em Santo Amaro, sua cidade natal, em 2006.
Ainda em 2007, é a maior vencedora do Prêmio TIM, dividindo o protagonismo do prêmio com Marisa Monte. Bethânia, mais uma vez, compareceu à cerimônia, e levou para casa os troféus de melhor cantora, melhor disco (Mar de Sophia), melhor projeto gráfico (Pirata) e melhor canção ("Beira-mar", do CD Mar de Sophia).
Em 2008, junta-se à cantora cubana Omara Portuondo e segue em turnê pelo Brasil e países vizinhos, como Argentina e Chile; nos dias 4 e 5 de abril foi gravado o DVD ao vivo em Belo Horizonte no Palácio das Artes, sob a direção de Mário de Aratanha e a produção musical de Moogie Canázio, originando também um CD.
Em 2009, lançou o DVD Dentro do Mar tem Rio, registro do show ao vivo gravado nos dias 7 e 8 de dezembro de 2007, em São Paulo, com direção de Andrucha Waddington. No mesmo ano, lança na Gafieira Estudantina os trabalhos Encanteria, onde canta as mais variadas formas de fé (pelo selo Quitanda) e Tua, com canções românticas (pela Biscoito Fino); ambos são compostos por canções inéditas. O repertório do espetáculo calcado na divulgação dos dois trabalhos é composto por estas faixas intercaladas a antigos sucessos da artista. Seu título é batizado com três nomes que, segundo ela, foram herdados de sua tradição familiar: Amor, Festa e Devoção.

Em junho de 2010, após décadas sem se apresentar em um programa de TV, Maria Bethânia prestou uma homenagem ao cantor e compositor Erasmo Carlos durante a edição especial do Programa Altas Horas pela passagem dos 50 anos de carreira do artista. Na ocasião, ela interpretou "As Canções que Você Fez pra Mim" e "Sentado à Beira do Caminho". O DVD Carta de Amor, lançado em 2013, traz uma turnê baseada no álbum Oásis de Bethânia. O DVD tem seu título incorporado em um poema-canção escrito pela própria cantora. Em 2014, a faixa-título foi indicada ao Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira.


Em março de 2011, a cantora se viu em meio a uma polêmica devido à autorização dada pelo Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, para captar a quantia de R$ 1,3 milhão para a produção de um blog na internet. O fato provocou significativa reação em sites como Twitter e YouTube, onde diversos internautas gravaram vídeos protestando contra a autorização.

Caetano Veloso defendeu Bethânia apontando que projetos de diversos outros artistas, conhecidos e desconhecidos, tiveram autorização para captar quantias maiores. Por fim, em setembro de 2011, a cantora veio a público afirmar que desistiu de participar do blog no qual recitaria poesias famosas diariamente devido a seu projeto de lançamento de um novo CD com canções inéditas.


Referência: Wikipédia Brasil

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Padre Neves: o eterno missionário!

Arquivo Pessoal de Pedro Botelho Neto /Foto : Missa em Ação de Formatura de Pedro Botelho Neto, abril de 2012

Vai demorar muito tempo - talvez séculos! - para que Chapadinha
 tenha a dimensão exata do imenso vazio espiritual, político e moral
 que a partida do maior líder religioso de toda a sua história
representa. Padre Manuel dos Santos Neves – ou simplesmente
 Padre Neves, como costumavam chamá-lo – era uma figura
raríssima, dessas que surgem de tempos em tempos sobre a
 terra e que despertam a nossa atenção por reunirem, em si
 e ao mesmo tempo, todas aquelas características que nas
demais pessoas só se revelam de forma isolada e em
 geral bastante tímida: dignidade, coragem, sabedoria, generosidade,
 força de caráter, humildade e fé.


Analisando a trajetória desse português nascido na Vila de Cucujães,
 Portugal, a primeira coisa que a gente se pergunta é: o que teria
 feito esse homem deixar para trás parentes, amigos e uma
 vida certamente promissora e confortável - tudo aquilo que,
 como diria Mário Vargas Lhosa, a nossa "Civilização do Espetáculo"
 mais preza e cultua - para se embrenhar nos confins do Maranhão
 nos idos de 78, uma terra inóspita, marcada pela pobreza e pelo
 latifúndio, pela violência e pela desigualdade social? A resposta
 a essa pergunta quem nos dá é o próprio Padre Neves, no prefácio
 do livro É mesmo uma boa nova, do meu amigo Padre Pedro:
"Ser missionário, deixar sua família e cultura, não é sacrifício,
 mortificação, renúncia... é livre preferência, alegre investimento,
 imensa alegria e enriquecimento humano".

Para Manuel Neves, portanto, levar a palavra de Deus a quem
necessitava era uma alegria, uma forma de crescimento espiritual -
 não um martírio. Eis o verdadeiro espírito missionário. E foi
esse espírito missionário, aliado à imensa fé cristã, que o trouxeram
para nosso meio. E que o ajudaram a enfrentar com firmeza e
 determinação as dificuldades, as perseguições, os desafios e incompreensões
que desde sempre se lhe puseram no caminho. "Fomos sujeitos
a inquéritos policiais, tivemos que nos apresentar em tribunais,
responder a falsas acusações nos meios de comunicação social...
Mas durante todos estes trinta e seis anos, os missionários,
 em comunidade apostólica, aceitaram o conselho evangélico: ‘não
 tenhais medo dos homens’." E não tiveram mesmo!

Mas se, por um lado, a postura firme e irrenunciável a favor dos menos
 favorecidos e contra a exclusão social atraiu o ódio dos poderosos,
 por outro, fez com que Padre Neves conquistasse o coração e a
alma do povo humilde das centenas de comunidades e bairros
espalhados na região de Chapadinha, que viam nele mais que
um simples líder religioso: na verdade, o tinham como um amigo,
um irmão e – por que não dizer? - um grande pai. A prova dessa
 simbiose espiritual e social com a população podia ser facilmente
constatada durante as festividades religiosas organizadas pela
 paróquia sob a liderança luminosa do Padre Neves, entre elas
 as procissões em homenagem à santa padroeira da cidade, Nossa
 Senhora das Dores, que atraíam – e ainda atraem - milhares de pessoas.

No entanto, apesar de todas essas claras demonstrações de
prestígio social e religioso, Padre Neves sempre manteve a humildade,
 reconhecendo que a obra em prol da Igreja deveu-se menos à sua
 atuação individual do que ao próprio trabalho divino: "Deus foi,
é e será sempre o eterno senhor e operário da messe. Nós apenas
lhe damos visibilidade e, quantas vezes, com notório atraso. Quando
 pensamos que trazemos a iniciativa da Boa Nova, já a achamos
trabalhando, em etapas de salvação, na vida do povo. Evangelizamos,
 mas também somos evangelizados por esse silencioso e fecundo
trabalho do Espírito". Eis aqui uma lição para alguns semideuses,
desse e de outros credos, que há muito deixaram em segundo plano a
palavra divina para se transformar em astros pop. Pura jactância.

A contribuição de Padre Neves, porém, não se resume à revitalização
 e consolidação da Igreja Católica em nosso município. Seu maior
 legado é ter semeado entre nós os valores cristãos da solidariedade,
 do amor aos desamparados e do combate intransigente às injustiças
– tudo isso sem aderir a particularismos ideológicos de direita ou
 de esquerda, a interesses de grupos políticos oficiais ou de oposição.
Graças a ele, hoje sabemos que a evangelização não pode ocorrer no
 vácuo, longe das questões do mundo concreto dos homens. Que fé
e justiça social andam de mãos dadas. E que a tarefa de levar a
Boa Nova exige entrega livre, espontânea e absoluta. "Eu sou dos que
pensam que na vida cristã ou se joga tudo ou não se ganha nada. Não
 importa o que temos. Só nos enriquece o que damos".

É por essa firmeza de convicção e pela força de caráter que sua vida
se transformou num dos poucos exemplos entre nós capazes de
[orientar jovens e velhos na busca da verdade, do perdão e do amor
 divino. Jamais transigir com a injustiça ou com a hipocrisia.
Jamais admitir a mentira ou a falácia. Fazer com que o povo tome
as rédeas do seu próprio destino: eis os motivos por que Padre Neves
[lutou durante toda a vida. "Sensibilizar o povo para mudar
 esta situação, desenterrar e levá-lo a assumir a sua dignidade
humana, formar os ambientes para o respeito ao Estado de Direito
 da sociedade, organizar as comunidades para uma digna participação
 sindical, política e social. Tudo isto, além de quebrar velhas
 e abusivas arbitrariedades dos políticos locais... tornou-se
uma constante preocupação nossa, mexeu comigo e meus colegas".

Quem nesses dias acompanha o clamor do povo simples, as lágrimas,
a comoção dos amigos mais próximos e dos colegas de trabalho,
as declarações públicas – das mais sinceras às que não passam
 de meras formalidades – há de em algum momento, lá no fundo da
sua consciência, também se perguntar: e eu, o que estou fazendo
para melhorar a mim mesmo e aos que me cercam? Quando essa
 pergunta se fizer presente, e, principalmente, quando ela começar
a se transformar em atos de fé e esperança, é sinal de que aprendemos
 a lição. De que as sementes plantadas pelo grande missionário já estão
 frutificando. Aí então teremos a certeza de que sua missão foi cumprida.


Ivandro Coêlho, professor e jornalista.



Faleceu Padre Manuel dos Santos Neves, Vigário da Paróquia de NSª das Dores de Chapadinha


Notificamos  o falecimento do vigário da Paróquia de Nossa das Dores, Padre Manuel dos Santos Neves. Tivemos essa triste notícia neste dia 19, justo na capela de Santo Expedito, a última capela por ele construída, após as mais de 20 Capelas e igreja aqui construídas em Chapadinha. Faleceu às oito horas de Portugal, no Hospital da cidade de SANTA MARIA, onde se encontrava internado.

Todo mundo pensava que iria vencer mais o obstáculo da pneumonia que acabou atacando nosso vigário, e acabou vitimando, dado seu estado de saúde debilitado por quase três meses de internamento. Até o sobrinho dizia que seria uma coisa leve e fácil de vencer. Mas acabou sendo levado a óbito.

Agradecemos a todos que ligaram e rezaram pelo Padre Neves e nos deram os sentimentos.

Chapadinha o que deve ao saudoso Padre Neves!Padre Neves você foi um mestre, um professor, um profeta,  um pai, um inovador, amigo, conselheiro, um construtor.

Que o digam os jovens, os casais, os acólitos, os trabalhadores, as comunidades, os Bairros...

Tem mortes que são para chorar. Esta é uma morte que é para louvar a Deus por um homem tão inteligente e um apóstolo e um vigário tão dedicado. Um pastor todo entregue à sua missão.

Agradecemos Senhor, esta vida que veio para tornar esta nossa vida com mais qualidade e mais valia.

Adeus Padre Neves,amigo, companheiro e mestre.

Chapadinha não seria tão Chapadinha sem a tua presença. A Paróquia te deve muito. Os missionários da BOA NOVA te devemos muito.

Só faço votos que o Município de Chapadinha ( onde você é cidadão honorário e o Brasil Pátria de adoção, como tendo duas nacionalidades) te recorde com saudade, e uma Rua seja batizada como teu nome. Quem sabe, a rua onde você passou mais vezes,a rua que você viveu 37 anos. Amém

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Na Europa:Tony Cajazeira encanta portugueses no tradicional festival de música

Dewis Caldas - Documentarista
Não sei nem como explicar as sensações que tive em exibir o documentário sobre o Tonny Cajazeira no festival de música tradicional Palheta Bendita, nesta semana. Havia lá um público muito seleto: investigadores, músicos, construtores de instrumentos, entendedores da cultura popular e demais interessados na pespectiva tradicional. Um público despido de qualquer preconceito quanto aos gêneros populares brasileiros, que se afeiçoou do personagem Tonny e se entregou ao seu jeito e estilo. Deram gargalhadas, se balançaram na cadeira ao som das músicas, se emocionaram e - por fim - apaludiram.

Após o filme, vieram conversar conosco, dando suas impressões do quanto acharam valioso este músico, do quanto representra a música brasileira, e sobretudo, a simplicidade tão marcante. Pra nós foi emocionante. Gostaria de que o próprio Cajazeira ouvisse tudo o que dizem a seu respeito e sobre sua arte. E mais, queria muito que os chapadinhenses ouvissem com atenção o que os intelectuais acham da obra desde grande músico da nossa terra. Ficariam orgulhosos. Mostrar imagens de Chapadinha, das coisas desta terra maravilhosa é algo que não consigo explicar. A cada exibição fico emocionado, é como se contasse a minha história também.
Me remeto as idas escondidas com amigos tomar banho na Itamacaóca, no Recanto da Jussara, no Repouso do Guerreiro, ou então jogando bola na praça da Bandeira em dias de chuva. É como se o filme não fosse feito por mim, mas sim, ganhou vida, a vida de todos nós chapadinhense, nossa história, nosso lugar. Ao final, gravamos um depoimento do músico e compositor Carlos Carneiro, que disse coisas como "O Tonny é duma riqueza, duma simplicidade... Como dizem os maiores estudiosos de música que conheci na vida: deve-se cultivar a simplicidade, mas até chegar lá é muito difícil e este homem nos demonstrou isso, nos deu uma grande lição hoje..."

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo

Não é estranho?
Passar todos os dias do ano, 365 dias esperando pra renovar sua esperança, 52 semanas de expectativa aguardando o futuro. Me questione, mas é um ano novo, tudo novo. Mas amanhã também não é um dia novo? Outro mês também não é um mês novo? Ou até mesmo a semana que vem não é inédita? Pra que esperar todo esse tempo para ter esperança por algo melhor, para aquecer uma paixão, para tentar um novo amor, para procurar emprego, para parar de fumar. Ano Novo é somente um ano novo, nada de mais, porque não podemos fazer isso em um dia novo, uma semana nova ou até mesmo em uma hora nova?
Se na passagem do ano vários problemas somem, pessoas chegam a chorar, é tudo muito emocionante. Ano Novo, vida nova. Vamos começar de novo, mais um ciclo, mais uma volta em torno do sol. E daí? Tente fazer isso todo dia, renove sua esperança a cada volta da Terra em torno do seu próprio eixo, renove sua vida a cada noite, durma uma pessoa e acorde outra. Nada é tão bom quanto a emoção do novo, tente isso todo dia!

A todos Boas Festas e Feliz 2015

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Piada do Dia


Um casal discute dentro do carro durante a viajem..depois de uns minutos eles passam por uma fazenda, onde há mulas e cavalos. Então o esposo diz: - Seus parentes? a esposa responde: - Sim, sogra e cunhados...